Análise: Assassin’s Creed Odyssey (PS4) – Na ponta da lança

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Assassin’s Creed Odyssey é um jogo de RPG e ação desenvolvido pela Ubisoft Quebec e publicado pela Ubisoft. É o décimo primeiro título principal da série Assassin’s Creed,  lançado em 5 de outubro de 2018 para Microsoft Windows, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. 

O game também conta com dois pacotes de DLC, cada um dividido em três episódios: “Legado da Primeira Lâmina” e “O Destino de Atlântida”, além de pacotes menores de itens in-game (alguns são vendidos separadamente). Versões mais aprimoradas também oferecem o título “Assassins Creed III Remasterizado” como conteúdo complementar.

Esta é uma análise livre de spoilers.

Os olhos da águia: uma caixa de Pandora 

Abraçando totalmente a estética RPG, Assassin’s Creed Odyssey possui um enredo (ou melhor, enredos) que, embora rico, leva bastante tempo para se desenrolar. Apesar de longa e talvez tortuosa, esta espera vale a pena. Com uma trama muito bem desenvolvida e dinâmica, o game optou por acatar os elementos RPG, que se antes eram ocasionais na franquia, agora regem toda a nossa experiência.

Com um sistema de escolhas de ações e diálogos – algo comum do gênero -, nossos atos serão testados e cada consequência irá moldar o mundo ao nosso redor. Essas escolhas podem ser tremendas ou insignificantes. Certa fração delas, infelizmente, é dispensável, não afetando nossa experiência principal. Dizer que esse sistema é uma farsa, no entanto, está longe de ser verdade. 

Através de ações, construiremos a personalidade de nossa personagem, bem como o desenrolar de toda trama, o que pode nos levar a nove finais diferentes para a história principal. Sentimos, obviamente, uma certa falta de “peso” nas nossas escolhas em algumas ocasiões. Felizmente, elas não são frequentes. 

O jogo traz dois protagonistas irmãos, Alexios e Kassandra, entre os quais podemos escolher qualquer um sem sofrer grandes alterações em na aventura (embora elas existam). É, de fato, interessante construirmos nossa personalidade com base em nosso comportamento, sendo egoístas ou altruístas, nobres ou arrogantes. Porém, em uma franquia marcada por protagonistas tão carismáticos e singulares, a Ubisoft, ao arriscar a personalidade do(a) portador(a) da águia, também coloca em xeque a identidade de sua marca.O que nos traz à questão: Assassin’s Creed Odyssey é um bom game. Mas é um bom Assassin’s Creed?

Considerando a dublagem ótima, gráficos incríveis, mapa colossal, alta imersão, NPCs interessantes, trama lenta e uma escrita (em sua maioria) bem trabalhada, talvez não seja tão fácil assim responder a essa pergunta.

Guia básico para construção de Odisséias: Faca de dois gumes 

Adotando uma temática RPG, Assassin’s Creed Odyssey aproveita tais elementos não somente em sua narrativa, como no gameplay também. Essa nova temática já havia sido implementada no título anterior da saga como um prelúdio para Odyssey. Obviamente, muitos fãs ficaram divididos, e com razão.

Aqui temos uma jogabilidade ágil, que funciona através de mecânicas de progressão. Com um sistema de níveis e troca/melhoria de itens, podemos personalizar nossa personagem adquirindo habilidades novas e equipamentos mais poderosos, que podem ser modificados como bem entendermos. Contamos com um arsenal bem amplo, incluindo lanças, espadas, arco e flecha, machado, entre outros. Dependendo de como evoluímos e do que empunhamos, os momentos de combate podem se diversificar, mas nunca serão lentos, e dependendo do nível da área onde exploramos podem ser bem desafiadores. Inspirada em games como Dark Souls, a mudança na jogabilidade de Odyssey é visível. Embora funcione perfeitamente, pode não agradar a todos.

Na Grécia antiga, iremos cruzar um mapa gigantesco com inúmeras atividades tanto em terra firme quanto no Mar Egeu. A bordo de nosso barco (que também pode evoluir junto a personagem), travaremos batalhas marítimas, faremos abordagens, saques, explorações de tesouros subaquáticos e alcançaremos ilhas cada vez mais longínquas. A quantidade de coisas para se fazer é impressionante.

Estamos falando do maior título da franquia já feito até o momento. Missões variadas, contratos de mercenário, caça, missões secundárias, colecionáveis, tarefas diárias, tesouros secretos, cavernas misteriosas, criaturas místicas, lutas pelo poder, alvos para matar… a lista é praticamente inumerável. É realmente possível viver no mundo do game por semanas ou até mesmo meses e ainda assim encontrar o que fazer.

O game também conta com uma mecânica semelhante à de títulos como Middle-earth: Shadow of War. Inspirado no sistema nêmesis, o ranqueamento de mercenários permite que sejamos caçados pelo mapa, e a recompensa por nossa cabeça cresce à medida em que cometemos crimes (você vai cometê-los de um jeito ou de outro). Ao neutralizar nosso caçador, é possível ocupar sua posição na lista de mercenários e subir até o topo, adquirindo recompensas cada vez mais valiosas.

Apesar de essa mecânica se tornar uma inconveniência em alguns momentos, podemos nos livrar de um mercenário em nossa cola de muitas formas – com dinheiro ou uma lâmina afiada, por exemplo.

Crise de identidade: as bicadas no fígado

Assassin’s Creed Odyssey possui alguns bugs recorrentes que não interferem na jogabilidade, mas podem ser uma pedra no sapato, sejam gráficos, sonoros ou até mecânicos. Com uma inteligência artificial (I.A) não tão inteligente assim, é fácil ver soldados apresentando comportamentos bizarros pelos cenários.

A escrita, apesar de boa em sua maioria, deixa bastante a desejar em momentos de menor importância, como nos romances. O roteiro deles pode embrulhar seu estômago, e garanto que não são borboletas. 

Quando falamos da Ubisoft, é preciso reconhecer que “pensar fora da caixa” pode ser louvável, mas a distância entre Odyssey e a caixa é grande demais. Se não fossem por alguns poucos elementos característicos da franquia Assassin’s Creed, ninguém acreditaria que estamos falando de um título da mesma. Sacrifícios heroicos podem funcionar em um campo de batalha, mas não tanto no mercado de games. Felizmente, as bruscas mudanças podem permitir que novos fãs ingressem na saga. Mas evidentemente, alguns também serão deixados para trás. 

Veredito: Metamorfose

Dizer com precisão qual caminho a franquia Assassin’s Creed tomará a partir de agora é difícil, mas se esta perda de identidade se agravar, sabemos que ele terminará no abismo. Assassin’s Creed Odyssey é um game excelente com uma longa vida útil, gráficos invejáveis, trilha sonora imbatível, história vagarosamente imersiva e muita ação à moda antiga. Porém, embora todo resultado de uma metamorfose seja interessante, a transformação pela qual a saga passou pode fazer com que o título não funcione dentro do conjunto. Uma medida arriscada, admirável, mas também perigosa. 

Mesmo com todas as mudanças, a franquia se mantém firme e forte, almejando novos horizontes e, em certa medida, desbravando-os. Contudo, distorcer o propósito original de uma ideia é falar grego. E para nossa sorte, estamos em Atenas.

Uma cópia digital do título foi concedida pela Ubisoft para realização desta análise.  

Revisão: Icaro Sousa

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