Análise: Exit the Gungeon (Switch) é uma reinvenção bem-sucedida

Davi Sousa
8 leitura mínima

Lançar uma sequência ou um título que se passa no mesmo universo de um jogo de sucesso, mas com alterações significativas em alguns de seus conceitos-base, tem um risco inerente. Assim como é possível conceber jogos bem feitos e que agradem o público, pode acontecer de o resultado se distanciar tanto da experiência original que o game seja uma grande decepção.

Felizmente, Exit the Gungeon (abreviado XtG para diferenciação), spin-off que segue os passos da obra-prima dos roguelikes da Devolver Digital, está na primeira categoria. Lançado em setembro de 2019 para iOS, esse dungeon climber de plataforma ambientado na famigerada Gungeon (Balabirinto, em português) é um misto entre novidades e elementos que tornaram Enter the Gungeon (EtG) a referência que ele é hoje. Seu port para Switch foi anunciado de surpresa ao final de uma Indie World no dia 17 de março, com lançamento no mesmo dia.

Uma sequência que não é bem uma sequência

Exit the Gungeon Indiespensáveis 1

Após sair pela Gungeon explodindo tudo, nossos heróis causaram um colapso na misteriosa estrutura labiríntica, e agora precisam escapar dela antes que seja tarde. A solução é um elevador que os levará para a superfície, mas as criaturas que habitam o local não vão facilitar a fuga.

É importante deixar claro que Exit the Gungeon NÃO É um Enter the Gungeon 2. Isso desagradou muitos fãs da série, que depois do sucesso estrondoso do título original, esperavam uma sequência direta. Entretanto, essa escolha de estilo não afeta o jogo negativamente. Muito pelo contrário: suas particularidades tornam a gameplay diferenciada e justificam boas horas de jogo até para quem não curtiu muito a mudança.

Diferenças e semelhanças

O ponto de início do jogo, chamado de A Fenda (The Breach, em inglês), já nos mostra uma das principais alterações em Exit the Gungeon. Ao invés da movimentação multidirecional 3D de EtG, a ação se passa em um confinado ambiente vertical 2D. Essa nova perspectiva torna os momentos de bullet hell ainda mais alucinantes, pois o já limitado espaço fica ainda mais apertado quando há uma chuva de balas voando para todo lado.

Exit the Gungeon Indiespensáveis 2

Como Exit the Gungeon acontece no universo do Balabirinto, sendo uma sequência direta em termos de trama, é natural que quase tudo do jogo anterior retorne. É claro que novidades foram acrescentadas, mas elementos como música, personagens principais e secundários, inimigos, chefes, armas, itens, sistemas de vida, moedas, lojas e colecionáveis foram reaproveitados de Enter the Gungeon. Uma manutenção compreensível para preservar a familiaridade da série.

Outra grande mudança, que também gerou controvérsias, é o sistema de armas dos personagens, os Gungeoneers (Balexploradores, em português). Vai embora a tradicional coleta de armas com munição limitada, chega uma bênção divina que transforma nossa pistola básica em uma arma de fogo que muda de maneira aleatória.

A potência do próximo tipo de arma que receberemos está ligada ao contador de combo presente na tela, que aumenta conforme derrotamos os inimigos e cai para 1 sempre que somos atingidos. Portanto, a destreza, já importantíssima em Enter the Gungeon, é ainda mais relevante aqui.

Menos exploração, mais plataformas

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Transformar as aventuras dos Gungeoneers em um platformer pode ter suas limitações, mas também deu muita liberdade criativa aos desenvolvedores do jogo. Enquanto Enter the Gungeon sequer dá ao jogador a opção de pular, em Exit the Gungeon os saltos são praticamente obrigatórios a todo instante, pois, assim como a esquiva, eles tornam o personagem invulnerável enquanto realiza o movimento.

Essa inventividade também foi aproveitada para dar distinção entre os aventureiros, além da sua aparência e habilidades. Com exceção do elevador que representa a primeira fase de cinco, cada Gungeoneer passa por salas diferentes no seu caminho em direção à saída, com suas particularidades e níveis de dificuldade. Essa variação de rotas não existe em Enter the Gungeon, que apesar de ser um roguelike, tem as mesmas cinco masmorras para todos os heróis.

Por outro lado, o dungeon crawler, tão icônico em EtG, foi substituído por uma progressão muito mais linear, com a aleatoriedade ficando por conta do já mencionado sistema de armas, dos inimigos que aparecem durante as fases e do chefe de cada estágio, selecionado a partir de um rol pré-existente. Não é uma escolha necessariamente ruim, mas certamente é uma sensação estranha não se embrenhar por diversas salas em busca da porta do chefão ou da charmosa lojinha do Bello, que aparece de maneira fixa ao final de cada fase.

Jogabilidade e muito conteúdo!

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Agilidade e reflexos continuam sendo cruciais para sobreviver na Gungeon, pois como costuma ser em bullet hells, a dificuldade é elevada. Ela não chega a ser injusta, mas o ritmo implacável nos força a estar sempre alertas a tiros vindos de todas as direções. Nesse sentido, a movimentação e os comandos do jogo são muito bons, o que é um alívio. A mira livre nos força a ter mãos firmes para conseguir precisão nos tiros ao mesmo tempo que atentamos ao posicionamento do nosso personagem.

A subversão na raiz da série não influencia na quantidade de conteúdo de Exit the Gungeon, que continua recheado de novidades e segredos para encontrarmos. A satisfação de encontrar e libertar novos NPCs está mantida, assim como a compra de armas e itens, que passam a aparecer durante as partidas.

O estilo artístico e o game design também foram preservados, com traços de bom humor, referências e maluquices características, como a criatividade para os nomes e o design de itens, inimigos, chefes e armas. Clássicos como a arma que dispara as letras de “bullet” (bala) e o cartucho que atira espingardas ajudam a compor a atmosfera cômica do jogo.

Exit the Gungeon Indiespensáveis 5

Essa quantidade massiva de conteúdo mantém o alto fator replay de EtG. As diferentes rotas de cada personagem são um excelente novo incentivo para continuar jogando mesmo após sucessivas mortes. Aliás, o próprio jogo estima, através da fala de um NPC, uma média de 15 tentativas para chegar à saída pela primeira vez. Para mim, foram necessárias vinte e duas partidas.

Um reforço digno

Apesar do descontentamento de parte do público, Exit the Gungeon tem valor mais do que suficiente para ser tão viciante quanto seu antecessor. A polêmica mecânica de troca de armas pode ser estranha para quem se acostumou com um sistema de armazenamento e munição contada, mas é possível se acostumar em pouco tempo. Os demais aspectos do jogo definitivamente contribuem para uma experiência positiva e muitas horas de tiroteio.

Análise feita com cópia cedida pela Nintendo

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