Análise: Hitman 1 & 2 [Atualização Legacy] (PS4) – Os dedos anônimos da mão invisível

admin
9 leitura mínima

Hitman 2 é um jogo eletrônico de stealth desenvolvido pela IO Interactive e publicado pela Warner Bros. Interactive Entertainment. É o sétimo título da série Hitman e foi lançado em 13 de novembro de 2018 para Microsoft Windows, PlayStation 4 e Xbox One. Para esta análise, foi utilizada a versão de PS4. 

O até então penúltimo capítulo da franquia Hitman (2016), inicialmente lançado em formato episódico, nos agraciou com sua sequência três anos depois. Com o novo título, os produtores parecem ter aprendido a ouvir as críticas de seus fãs, embora ainda deixem a desejar em aspectos que serão abordados ao longo do texto.

Trazendo a atualização Legacy, Hitman 2 conta com uma versão aprimorada em interface, gráficos e gameplay dos episódios de seu predecessor, chegando como um pacote ainda mais completo para aqueles que adquiriram a versão de 2016  anteriormente. 

Esta é uma análise livre de spoilers.

Hitman: Absolution [9] wallpaper - Game wallpapers - #20682

Xadrez para iniciantes: uma narrativa quase impecável

A nova fase da saga Hitman une o passado distante e aparentemente irrastreável do enigmático agente 47 ao futuro incerto após os acontecimentos de Hitman Absolution (2012), aprofundando-se na relação ambivalente do protagonista e sua supervisora, Diana Burnwood.Essa relação se estende ao mundo à sua volta, conforme este se deforma a cada contrato designado pela ICA, nossa empregadora.

Uma das cenas iniciais de Hitman (2016) serve perfeitamente como combustível de alta octanagem para a nostalgia que vive em todos nós, revivendo cada missão memorável dos capítulos passados da saga em uma cutscene de altíssima qualidade visual imbuída em uma trilha sonora que, como os ponteiros de um relógio, desenha todo o apelo ao detalhe que cada gamer certa vez se viu obrigado a desenvolver ao vestir o clássico terno do agente 47.

Tal capricho, no entanto, parece não ter sido mantido na sequência de 2018, trazendo cutscenes com menor dinamismo e até mesmo pouco cinematográficas, chegando a estar ausentes em determinados trechos em que seriam vitais para a trama.

Hitman 2 possui um enredo excelente que parece finalmente por alguns pingos nos “is” quanto à origem de 47, mas a forma como seu roteiro é apresentado deixa bastante a desejar, e a falta de apresentações mais cinematográficas em pontos-chave da trama mata todo o drama e suspense. E acredite em mim, eles não são o alvo.

A súbita mudança na forma de contar histórias no novo capítulo da saga entrega duas coisas?: os desenvolvedores estão dispostos a pensar fora da caixa, o que é ótimo! A ousadia leva à inovação, sim. Mas às vezes, como em todo bom jogo, é sempre bom manter o que se está vencendo ao invés de subir as apostas. Porque elas podem custar caro.

A escrita, no entanto, é inegavelmente de primeira ponta. Cada diálogo no jogo é construído sem desperdiçar uma linha. Em praticamente todas as cutscenes, personagens principais e secundárias revezam suas falas como em um jogo de xadrez, suavemente espetando o adversário e elevando a tensão à máxima potência.

Um bom diálogo deve ser escrito como um tango: intimidador, porém sensual. E o roteiro em Hitman baila com o jogador. Com direito a afrontas, humor ácido e, às vezes, ácido de verdade, os novos títulos da saga são de encher o peito de cada entusiasta por uma boa escrita ao redor do mundo. Com as ameaças globais e a rede de assassinos se expandindo cada vez mais no jogo, garanto que fãs de teorias de conspiração também não ficarão de fora.

Buscando o xeque-mate: a prática leva à perfeição 

Com um gameplay ultra dinâmico, Hitman 2 nos apresenta diversos cenários possíveis para cada fase, com condições e consequências bem específicas, que se configuram para diversas abordagens.

Um banho de sangue, embora possível, não é muito bem recompensado e nem recomendável, já que estamos falando de um jogo com enfoque em stealth. Mas certamente a diversão não impõe regras e o livre arbítrio nos é dado para ser usado. Porém, o cumprimento de missões secundárias (histórias) e desafios, bem como a busca por uma pontuação mais alta, irá exigir maior cautela, atenção aos detalhes, paciência e muito fator replay.

Se o problema de matar um vilão consiste em poder fazer isso apenas uma vez, garanto que em Hitman 2 o oposto é sempre bem-vindo. Afinal, variedade é o tempero da vida. E cada fase no game é um laboratório a ser experimentado, então faça questão de se sujar. 

Com uma campanha que se torna mais desafiadora à medida do quão perfeccionista você pretende ser, o game nos entrega uma experiência que não inova tanto em relação ao seu predecessor, mas que com certeza soube manter fórmulas que conquistaram os jogadores em seu gameplay, implementando suaves melhorias, como novas estratégias para a I.A e adaptações na  interface que remetem aos títulos mais antigos da saga.

O sistema de domínio de localidades, assim como os desafios regados à xp (pontos de experiência), garantem uma imensidão de recursos que tornarão seus muitos replays mais interessantes, ou até mesmo fáceis. Por isso, escolha seus instrumentos com cuidado, principalmente quando as opções são quase ilimitadas.

O game conta com eventos mensais, tais como alvos elusivos, e funcionalidades extras, como missões em formas de contratos, sendo essas disponibilizadas para cada mapa e se tornando mais difíceis a cada nível de agravamento que cumprimos. O que não impede os jogadores de gerar e publicar seus próprios contratos em missões personalizadas.

O modo Ghost revela-se como uma novidade de multiplayer mais competitivo, permitindo que dois jogadores duelem pelos mesmos alvos, sem que suas ações afetem diretamente um ao outro.

Conteúdos adicionais podem ser adquiridos para o desbloqueio de missões bônus e diferentes modos de jogo, como o Sniper Challenge, que embora não seja totalmente novidade, é sempre bom ter conosco.

Hitman 2 nos apresenta um alto fator replay, com muitos recursos e um arsenal que parece não ter fim. Eu disse “parece”. Com modos de jogo adicionais, o fator multiplayer parece ter se inovado. Se ele irá perdurar, bom, cabe ao tempo nos dizer.

Veredito: Rei afogado – talvez, três não sejam demais 

No fim das contas, Hitman 2 é, de certa forma, mais do mesmo. Mas isso não é necessariamente ruim. Afinal, é sempre bom fazer a manutenção de mecanismos que seguem operando com força total. Enquanto o game mantém, de fato, inovações que funcionaram em seu título anterior, ousa também inovar mais um pouco, embora com certa timidez.

Destas inovações, algumas funcionam, prolongando sua vida útil e enriquecendo o elemento multiplayer. Outras, entretanto, não parecem ter dado tão certo. Com um enredo que só parece melhorar, a história perde engajamento em sua forma de narração, o que nos comprova que não existem histórias ruins. Apenas contadores de histórias ruins.

Sendo assim, esperamos que, caso esta nova fase da saga culmine em uma nova trilogia, os desenvolvedores ousem com mais certeza da próxima vez e ouçam seus fãs cada vez mais. Porque embora apostar seja sedutor, apostar contra a vontade dos fãs é jogar contra a casa. E em qualquer jogo, a casa sempre vence. 

Análise feita com cópia digital cedida pela IO Interactive 

Revisão: Luiz Gonzaga

Compartilhe este artigo
1 comentário
tes