Puzzles que apresentam um único objetivo durante toda a sua gameplay precisam ser muito criativos em como desenvolvem os demais pontos do jogo. Boas inspirações são outro fator que ajuda muito, e Mekorama certamente é um trabalho de quem fez o dever de casa, com claras semelhanças a títulos como Monument Valley e Captain Toad: Treasure Tracker.
Lançado gratuitamente para Android e iOS em 2016, esse puzzle interativo isométrico é o trabalho de Martin Magni, desenvolvedor norueguês também responsável por Odd Bot Out. O port para Switch, lançado em março deste ano, conta com ajuda da Ratalaika Games e publicação da Rainy Frog.
Uma complexa volta ao lar
B (lê-se “Bee”, já que ele se parece com uma abelha) é um simpático robozinho que faz uma aterrissagem forçada em um planeta desconhecido. Agora, ele precisa caminhar por complicadas estruturas para encontrar o caminho de casa.
Em cada fase de Mekorama, precisamos fazer apenas uma coisa: guiar B até o ponto vermelho, que conclui o nível atual e desbloqueia um novo. Obviamente, cada estágio possui obstáculos, cuja lógica precisamos desvendar para levar o nosso amigo amarelo pelo trajeto correto.
A cada 25 mapas, a dificuldade geral muda, indo das fases mais simples, que servem como tutoriais de introdução às mecânicas do jogo, às mais elaboradas, que testam cada grama da inteligência e dos conhecimentos que o jogador tem sobre o que aprendeu até o momento.
É tudo questão de ponto de vista
Mekorama se aproveita muito bem da sua isometria, e isso fica evidente na elaboração dos puzzles do jogo. Temos aqui um misto de raciocínio lógico, ação em plataforma e ilusões de ótica, suportado pela câmera rotatória e pela função de zoom, que nos permite enxergar melhor alguns pontos de uma fase.
Para concluir alguns níveis, precisamos buscar um determinado ângulo para entender o que fazer. Em outros casos, é uma questão de timing para desviar de ameaças, fazer elementos fora do nosso controle funcionarem no momento certo, ou até mesmo memorizar padrões e sequências para aplicá-los sem um descuido sequer.
Explorar os mapas é importante para compreendê-los, principalmente em fases onde a solução não está visível a olho nu, exigindo um certo nível de dedução. Conforme a dificuldade vai subindo, naturalmente as respostas vão ficando menos óbvias, necessitando de análises cada vez mais aprofundadas e bem calculadas.
A ferramenta-padrão à nossa disposição, presente em todas as fases, são blocos de bronze com um círculo no meio, indicando que podemos interagir com eles para efeitos distintos nas peças do jogo, como girar ou empurrar plataformas e outros blocos. A solução de cada desafio passa por eles, que precisam estar posicionados corretamente para formar um caminho livre do B até a saída.
Uma adaptação incompleta
Como Mekorama foi lançado originalmente para dispositivos móveis, faz sentido que os controles de toque sejam mantidos no Switch. Já que os comandos do jogo se resumem a rodar o mapa, dar zoom, interagir com os blocos especiais e tocar nas plataformas para onde B deve ir, não houve dificuldade em torná-los funcionais o suficiente para a gameplay no modo portátil pela touchscreen. Já com os Joy-Cons, aparece um pequeno cursor, que temos que mover pela tela.
Um detalhe que pesa bastante negativamente é o editor de fases do jogo. Nas versões para Android e iOS, é possível criar fases, compartilhá-las e baixar outras online através de códigos QR. Infelizmente, por algum motivo, a versão de Switch não permite o compartilhamento e nem o download. Podemos criar nossos próprios quebra-cabeças, mas apenas para jogo local.
Talvez seja por isso que o port de Mekorama para consoles tenha o dobro de fases (100, ao invés das 50 de Android e iOS), mas não deixa de ser um retrocesso grave para o que poderia ser uma ferramenta com potencial ilimitado. O único propósito prático de criar uma fase é convidar outras pessoas para jogá-las, já que não faz muito sentido projetar puzzles cujas soluções nós já saberemos.
Apesar dos pesares, um balanço positivo
Mekorama é um puzzle sensacional, com uma dificuldade instigante, jogabilidade com ritmo relaxante, músicas tranquilas e um protagonista muito carismático. A ausência do compartilhamento de fases impede a experiência ideal, mas a quantidade de estágios disponíveis compensa em grande parte esse problema.
Análise feita com cópia digital cedida pela Rainy Frog