A Team17 segue surfando a onda dos caóticos simuladores cooperativos. Após o sucesso estrondoso da série Overcooked, era natural um novo título do gênero. Como mais uma sequência no Reino das Cebolas seria desgastante e repetitiva, a desenvolvedora e publicadora britânica agora nos traz Moving Out, criado pela australiana SMG Studio e pela sueca DEVM Games.
Bem-vindo a Packmore!
Logo de cara, Moving Out faz questão de receber os jogadores dando o tom de anos 80 que permeia o ambiente do jogo, com um filme em videocassete que nos introduz à Smooth Moves, empresa de mudanças localizada na cidade de Packmore. No controle de entusiasmados funcionários, nosso trabalho é rodar por diversos tipos de propriedade em Packmore e realizar serviços de mudança de qualidade.
Após um breve tutorial, que nos ensina os comandos e as interações com os tipos de objetos do game, vamos direto para a ação. Cada fase tem uma determinada quantidade de itens específicos que devemos mover para a parte de trás do nosso caminhão. Eles devem estar completamente dentro da área marcada, e tudo deve ser feito no menor tempo possível. Dependendo da rapidez com que executamos a mudança, recebemos uma medalha de ouro, prata ou bronze.
Paralelamente às mudanças, as fases nos dão objetivos secundários, que cumprimos para obter pequenas fichas de ouro. Esses objetivos estão relacionados a elementos dos locais que visitamos, como janelas, terreno e coisas que precisamos levar ao caminhão. Já as fichas que recebemos estão relacionadas a um conteúdo bônus, do qual falaremos mais adiante.
Em certos casos, realizar essas tarefas requer múltiplas tentativas do mesmo estágio, pois elas entram em conflito ou levam muito tempo. É impossível, por exemplo, quebrar todas as janelas e não quebrar nenhuma ao mesmo tempo. Essa característica traz variedade à gameplay, mas pode torná-la repetitiva por nos fazer revisitar algumas fases muitas vezes.
Trabalho braçal em equipe
Carregar a mobília e os demais itens demanda muito planejamento, coordenação e cooperação. Naturalmente, temos objetos de diferentes tamanhos e pesos. Os menores podem ser transportados por uma única pessoa sem problemas, mas alguns são grandes ou pesados demais, necessitando que pelo menos dois jogadores se juntem para erguê-los e até jogá-los sem cerimônia. Entretanto, conforme mostrado no tutorial, o arremesso exige precisão e posicionamento.
Se comunicar com os colegas de trabalho é essencial. Não adianta simplesmente agarrar camas, geladeiras e sofás enormes para largá-los de qualquer jeito. É preciso pensar em como esse tipo de mobília será levada ao caminhão e alocada de modo a otimizar o espaço disponível. O tempo é outro ponto importante, pois devemos sempre procurar maneiras de economizar cada segundo possível. A ação de jogar objetos é uma grande aliada, nos poupando o esforço de ir e voltar ao caminhão mais do que o necessário.
Felizmente, cuidado não é uma característica que precisamos ter em Moving Out, graças ao seguro feito pelos nossos clientes. Portanto, podemos manusear as peças sem maiores preocupações. A exceção são os itens frágeis, caixas vermelhas que quebram se sofrerem um impacto forte o suficiente.
Os objetos não são os únicos obstáculos no caminho do sucesso da Smooth Moves. Cada localidade de Packmore que visitamos tem suas particularidades. A confusão está garantida em toda casa, apartamento, chalé, escritório corporativo e mansão mal-assombrada no nosso caminho. A estratégia para transitar por essas áreas sempre será diferente, levando em consideração o espaço que temos para nos locomover e algumas ameaças, como ancinhos largados no chão e até fantasmas.
A física em Moving Out é um aspecto que destoa um pouco do seu ótimo padrão de qualidade da jogabilidade. Apesar de termos uma liberdade satisfatória de movimentação, é muito fácil ficarmos enganchados em cantos de paredes, portas e objetos que estão no nosso caminho, principalmente quando estamos carregando mobílias grandes. Em alguns casos, até fiquei sem saber o que estava impedindo minha passagem, o que pode ser bem frustrante.
Nostalgia, referências e humor não tão sutil
A atmosfera de anos 80 em Moving Out não se limita ao vídeo que nos apresenta à Smooth Moves. A cultura da época se reflete nos elementos do jogo, como objetos, música e tecnologia. Até quem não viveu esse período vai reconhecer as referências a clássicos como Frogger e Pac-Man. E que tal uma casa cheia de pizzas e uma tartaruga com uma faixa vermelha no rosto? Lembra algo?
Essa volta ao passado serve de inspiração para os conteúdos bônus do game: a Superloja VHS e o Fliperama. O primeiro relembra mudanças que entraram para a história de Packmore, como um resgate de bagagens de um avião; já o Fliperama é um conjunto de níveis que deixam o fator mudança um pouco de lado, focando em desafios de plataforma e precisão.
Um humor irônico é outra parte fundamental da composição da gameplay. Todos os diálogos envolvendo os funcionários da Smooth Moves e seu chefe evidenciam condições de trabalho nada ideais, apresentadas em tom cômico.
Apesar dessa situação adversa, nada abala a confiança dos leais trabalhadores da empresa, que sempre encaram seu trabalho como uma dádiva (ainda que tenham um inocente descaso com a propriedade dos clientes) e reverenciam o patrão como uma pessoa maravilhosa. Ele, por sua vez, presenteia seus empregados com pérolas de sabedoria motivacional.
Acessibilidade e o caminho do lobo solitário
Apesar de ter um óbvio potencial para multiplayer cooperativo, Moving Out também pode ser jogado por apenas uma pessoa. E ao contrário do que costumamos pensar, não é uma experiência ruim. É claro que se divertir com amigos em um título planejado para tal sempre vai ser o ideal, mas no caso de Moving Out, o jogo solo tem seus méritos.
Graças à atenção dada pelos desenvolvedores, certas alterações foram implementadas para quem está sozinho. Algumas, como a quantidade de itens a serem levados e o tempo para obter cada medalha, existem para refletir a quantidade de jogadores, mas a principal delas é um aumento da força do jogador solitário, que pode carregar qualquer objeto por conta própria.
Infelizmente, não é possível arremessar peças grandes ou pesadas demais, o que significa uma perda de praticidade e um aumento na dificuldade. Algumas fases do Fliperama também são alteradas no multiplayer.
A otimização da experiência para um jogador é só o começo do cuidado dos criadores com o jogo. Moving Out tem um zelo sensacional com acessibilidade e diversidade. Além do Modo Assistência, que facilita a jogabilidade em alguns aspectos para quem deseja uma jogatina mais tranquila, o menu de opções conta com uma opção para jogadores disléxicos, que muda a fonte dos textos para uma menos estilizada, mais fácil de ler. Também é possível configurar a escala de interface do usuário, alterando o tamanho dos elementos de HUD.
Outro detalhe incrível é a possibilidade de transformar qualquer personagem em cadeirante, uma opção de representatividade que dificilmente vemos não só em jogos, mas em qualquer tipo de mídia. Apesar de não influenciar na gameplay, é um acerto primoroso da Team17 (que já incluiu personagens cadeirantes em Overcooked 1 e 2), da SMG Studio e da DEVM Games, e eu sinceramente espero que sirva de inspiração para outros desenvolvedores.
Um multiplayer local em tempos de pandemia
Entre a campanha principal, a Superloja VHS e o Fliperama, Moving Out alcança o equilíbrio perfeito entre ter conteúdo o bastante para ser bem aproveitado, mas suficiente para não ficar enjoativo. Ele tem ainda duas boas notícias para brasileiros: além de ter suporte para o português PT-BR nos menus e legendas, o jogo está disponível na Loja Nintendo Brasil!
Não faltam motivos para entrar de cabeça na maluquice em grupo do mais novo membro da família dos simuladores cooperativos. Como Moving Out não tem modo online, talvez seja preciso aguardar o fim da quarentena para aproveitar com os amigos, mas a espera vale a pena.
Análise feita com cópia digital cedida pela Team17 Digital
Revisão: Caroline Marques
