Seja pelo gênero, formato ou escopo, categorizar jogos é algo comum hoje em dia. Entre jogos de Terror, Ação, Plataforma, Roguelikes, Metroidvanias e os Soulslikes, a diferença mais nítida está entre os jogos AAA e os jogos indies. Porém, aqui fica a pergunta que não quer calar: o que caracteriza um jogo indie?
Para alguns, depende do orçamento para o desenvolvimento e o tamanho da equipe; para outros, um jogo pode ser considerado indie apenas pelo seu estilo gráfico ou narrativo.
Podemos dizer que a Moon Studios é uma das empresas que navega nesses dois mares: mantém uma estética indie, mas conta com o aporte financeiro de uma grande empresa.
Fundada em 2010 e comprada pela Microsoft em 2011, a Moon Studios chega ao seu segundo jogo: Ori and the Will of the Wisps. Curiosamente, esse é o game que melhor representa como a empresa e a franquia fogem desses rótulos que tanto adoramos usar.
A Evolução em Will of the Wisps
Não é qualquer estúdio independente que consegue chamar a atenção da gigante do Xbox. A grande razão para isso acontecer com a Moon Studios tem nome: Ori and the Blind Forest, o primeiro jogo da franquia, lançado em 2015.
Apesar do enorme sucesso e da qualidade desse título de estreia, a sequência de Ori consegue ser ainda melhor, ajustando alguns problemas de Blind Forest e trazendo muitas novidades:
Arma principal: os “fragmentos” da luz espiritual foram trocados por uma espada longa e rápida. Além disso, é possível vincular as habilidades aos botões que você quiser e a qualquer momento;
Salvamento automático: em Blind Forest era preciso gastar energia para salvar o seu progresso. Agora o salvamento é automático e também pode ser feito nas fontes de teletransporte;
Relíquias: são habilidades passivas que podem ser usadas ao mesmo tempo. Algo parecido com Hollow Knight;
Combate: as batalhas agora são muito mais intensas. Tanto Ori quanto os inimigos sofrem menos dano, assim o combate fica um pouco mais longo;
Começando já habilidoso: logo de cara, Ori recebe importantes habilidades, como se prender na parede, o dash e o poder de se impulsionar em magias e nos inimigos;
Novos NPCs: carismáticos personagens aparecem nessa nova aventura, o que deixa a história mais profunda e o universo com mais personalidade.
Melhorias e inspiração com a mesma atmosfera
Se tem algo que Will of the Wisps acertou em manter foi toda a ambientação de Blind Forest. Desde a trilha até o exuberante visual, que recebeu um update, o jogo traz toda aquela sensação de magia e de um mundo conectado entre todas as áreas.
Além da coragem para melhorar elementos que já eram muito bem implementados, Ori and the Will of the Wisps não esconde a inspiração em um dos melhores jogos indies dos últimos anos: Hollow Knight.
Esse fator fica nítido nas batalhas, que lembram muito o clima de adrenalina do jogo da Team Cherry – apesar de Ori ser bem mais fácil.
Com toda essa tensão, não tinha como as boss battles não serem memoráveis, a combinação de perseguições (que vem de Blind Forest) com o sistema de padrões de movimentos funciona de uma forma precisa em Ori and the Will of the Wisps.
Batalhas contra diversos inimigos para desbloquear um caminho, o uso de relíquias, missões secundárias e desafios que oferecem recompensas são outras semelhanças de Ori com Hollow Knight.
Você deve estar pensando: “ok, muitos jogos fizeram isso antes de Hollow Knight”. Porém, o que chama a atenção entre esses dois títulos é como eles cumprem com excelência os requisitos básicos para um bom jogo de plataforma/metroidvania (jogabilidade, exploração e desafios) e como Will of the Wisps não se preocupa em se inspirar no título da Team Cherry.
O melhor de vários mundos
A excelente jogabilidade, o impecável level design e a história simples, mas emocionante de Ori and the Will of the Wisps são fatores que saltam aos olhos daqueles que jogam.
Para tudo isso acontecer, o game consegue aproveitar o que há de melhor em Blind Forest, acrescentar novidades com inspirações em outros grandes jogos e consegue manter toda a essência que tornou primeiro título um sucesso.
Mas, provavelmente, ainda vão insistir na pergunta: “Ori é um jogo indie ou não?”.
Talvez a melhor escolha da Moon Studios em seus 10 anos de existência foi não se preocupar em responder essa pergunta. Melhorar de forma significativa um jogo que já era excelente só foi possível porque a empresa não se limitou a esses rótulos e trafegou entre diferentes segmentos dos videogames.
Contar com a visibilidade, o orçamento e a estrutura de uma grande empresa como a Microsoft possibilitou ao estúdio alcançar níveis técnicos que podem ser comparados com jogos AAA; ao mesmo tempo que o poder de escolha no desenvolvimento garantiu a liberdade que um jogo “independente” representa.
Além disso, o lançamento pelo Gamepass, no Xbox One e no PC, garante um número maior de pessoas jogando Ori and the Will of the Wisps, apesar da sua exclusividade (temporária ou absoluta).
Mas nem tudo são flores nessa parceria. O jogo sofreu um adiamento e ainda assim apresentou alguns problemas de desempenho em seu lançamento, como alguns pequenos travamentos em determinadas áreas. Ainda assim, podemos dizer que o saldo dessa relação é extremamente positivo.
Inúmeras qualidades técnicas, uma identidade própria, muito conteúdo para explorar, batalhas satisfatórias contra uma variedade de inimigos, boss battles de tirar o fôlego e a vontade autêntica de vasculhar cada cantinho de um mapa feito com muita precisão.
Não podemos afirmar com convicção se Ori and the Will of the Wisps é um jogo indie, AAA ou um pouco dos dois, mas já é possível ter uma ideia que esse é um dos grandes títulos deste fim de geração e um dos melhores do ano de 2020.
Revisão: Luiz Gonzaga