Freud – Entre a Realidade e a Ficção

Cintia Potapczuk
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Criada por Marvin Kren, Stefan Brunner e Benjamin Hessler, Freud estreou na Netflix no dia 23 de março de 2020, não apenas trazendo ao público a história real da vida de Sigmund Freud, mas também misturando ficção policial ao universo da série.

Para quem não sabe, Freud é conhecido por ser o pai da psicanálise, médico neurologista e psiquiatra. Ele dedicou seus estudos ao tratamento de pacientes com histeria através da hipnose para ter acesso ao conteúdo de suas mentes, pois acreditava que a causa da histeria era psicológica e não orgânica, ao contrário de como estava sendo tratada de início.

Seus estudos foram muito controversos à sociedade de Viena do século XIX, mostrados logo no primeiro episódio da série, mas isso não impediu Freud de seguir com eles e desenvolver grandes teorias a respeito da mente, que são usadas até hoje por psicólogos.

A série ambienta uma Viena do século XIX, mostrando a juventude de Freud (Robert Finster) e o início de seus estudos para a histeria. Ela traz também um ambiente sombrio com a introdução da personagem Fleur Salomé (Ella Rumpf), uma médium manipulada por seus mentores através da hipnose, vítima de uma grande revolta tramada por Viktor e Sophia Szápary, que são da ex-realeza húngara e articulam um grande golpe ao império Austro-húngaro, buscando a liberdade da Hungria a qualquer custo.

Fleur Salomé, Freud e os policiais Alfred Kiss e Christof F. Krutzler Fonte: Divulgação

Crimes começam a acontecer pela cidade, deixando um grande mistério no ar e intercalando um personagem com o outro, fazendo com que Freud seja parte fundamental na investigação dos crimes, através das sessões de hipnose com Fleur e o envolvimento dos policiais Alfred Kiss (Georg Friedrich) e Christof F. Krutzler (Franz Poschacher).

Os criadores optaram por usar fatos reais da vida de Freud misturados com romance policial e ficção aos episódios, trazendo uma outra forma de se conhecer mais sobre o pai da psicanálise com um entretenimento fora do esperado aos que já sabem mais sobre sua vida, o que pode trazer um certo desconforto à série.

Ocultismo ou Hipnose?

A série mexe com muitas outras questões além da vida de Freud. Uma delas é a mediunidade de Fleur, que se faz presente em todo o decorrer da história e traz questionamentos ao telespectador em relação ao que realmente é real ou delírios da mente.

A hipnose é bem aprofundada, mostrando que outros personagens conheciam essa técnica, mas usavam-na como uma forma de controle, que é o que Viktor e Sophia fazem durante a série.

Viktor, Sophia e Fleur Fonte: Divulgação

Através da hipnose, eles controlam Fleur com o objetivo de libertar a Hungria da Áustria, despertando nela muito mais do que esperavam. Surge então um novo mistério para Freud desvendar: Taltos, muito citado por eles. Mas, afinal, quem é Taltos?

De início, parece ser uma entidade ou demônio que toma o corpo de Fleur e a transforma em um ser totalmente insaciável de sexo, o que vai deixando a situação cada vez mais confusa, atrapalhando Freud em sua vida pessoal.

Na mitologia húngara, Taltos seriam pessoas com habilidades sobrenaturais, incluindo poderes de cura e mediunidade, então Viktor e Sophia viam Fleur como um Taltos, mas não era essa a real situação.

Taltos na verdade era o lado sombrio e animalesco de Fleur, coisa que todos temos dentro do nosso inconsciente, despertado por Viktor e Sophia e que era controlado através da hipnose.

Após descobrir isso, Freud ajuda Fleur a enfrentar todo o terror acometido a ela usando a hipnose, o que a torna peça principal para que a guarda imperial impeça Viktor e Sophia de tomar o império Austro-húngaro e libertar a Hungria de vez.

Fleur, depois de tudo isso, aceita Taltos como parte dela e o reconhece como um poder, uma parte que se torna um aliado.

A Ligação Entre a Vida de Freud e a Série

Os criadores da série souberam muito bem intercalar a vida de Freud na série, pois o momento de sua vida em que ela é passada é uma parte em que não se tem muita informação do que aconteceu, o que deu liberdade para os autores criarem algo tão fantástico.

Um exemplo é mostrado no final da série, onde Freud decide escrever e relatar todo o caso em um livro, mas é impedido pelo rei de publicá-lo, pois as pessoas poderiam saber que seu reino quase foi tomado. Decepcionado, Freud decide queimar o exemplar do livro que escreveu, sendo que, na vida real, ele realmente queimou seu primeiro livro sem deixar explicações do ato ou cópias.

Trailer oficial da série

A série também mostra o uso de cocaína por Freud, que foi um dos primeiros a usar e propor a droga como estimulante e analgésico. Ele estudava os fatores antidepressivos que a cocaína causava, pois achava que ela seria a cura para diversos transtornos.

A série conta com 8 episódios e, por enquanto, não foi confirmada uma segunda temporada, mas logo na sua estreia já ganhou indicações ao Romy Awards, renomado prêmio francês.

Revisão: Kiefer Kawakami

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